2009/04/18

O que é para mim o Ensino a Distância (EaD)?

Considero que o Ensino a Distância (EaD) é a transformação do ambiente tradicional, em que os professores e os alunos têm uma hora e um local para se encontrarem, num ambiente educacional em que os alunos e os professores se encontram em locais e horários diferentes. Além disso, este último ambiente promove uma metodologia diferenciada, concedendo o lugar central à autonomia do aluno, à comunicação bidireccional entre professores e alunos e aos recursos tecnológicos actuais.

A educação a distância é reconhecida, nos dias de hoje (longe já da troca de correspondência), como a forma de atendimento a um grande número de alunos e por um custo muito mais razoável do que o ensino presencial, apesar de a EaD não ser a solução para os problemas educacionais da sociedade actual. Esta metodologia, que é actualmente uma combinação entre o ensino e a tecnologia, não se esgota nas ferramentas tecnológicas. São criados novos veículos de comunicação, por exemplo as TIC, colocados à disposição de alunos e professores numa interactividade segura, de forma a reduzir distâncias, e conteúdos específicos que assegurem a aprendizagem do educando, aos quais se acede através de uma plataforma online sob a responsabilidade de uma escola ou universidade ou ainda outra entidade educativa. O material didáctico é preparado por especialistas e procura-se desenvolver no aluno hábitos e atitudes de estudo, sem a presença física do professor, levando-o a tornar-se num autodidacta. Por sua vez, a comunicação é um elemento chave neste novo processo educativo, considerando que não há educação sem comunicação. Para mim, o diálogo entre professor e aluno revelam-se indispensáveis, não podendo ser concebido como um acto mecânico. Ou seja, o uso das tecnologias ou um excelente plano de curso não bastam para resolver os problemas que se apresentam durante o processo educativo.

A metodologia em EaD deve, na minha opinião, permitir a aquisição do conhecimento acessível a todos, através de uma comunicação activa que tenha no material didáctico a ferramenta básica para a aprendizagem, material que deve ser, por natureza, explícito, motivador e variado. A garantia de um equilíbrio entre esta metodologia e o material didáctico cabe ao tutor (professor virtual), cuja função é não só produzir o material didáctico e gerir os recursos didácticos, como também avaliar o desempenho dos alunos, proporcionando-lhe um apoio contínuo que contribua para a obtenção de bons resultados.

A nova concepção de educação aqui referida não leva a que os professores sejam substituídos pelas novas tecnologias, apenas terão funções diferentes das que tinham ou têm hoje em dia. Os respectivos currículos respeitam as necessidades dos alunos e as actividades lectivas são desenvolvidas para atender a essas necessidades. Julgo que a cooperação entre as partes envolvidas é fundamental para o sucesso dos cursos ou projectos de ensino, tendo em conta que se vive numa época em que a aprendizagem independente é a grande estratégia da educação.

Finalmente, gostava de reflectir um pouco na qualidade de e-estudante. Assim, a minha posição quanto às relações que se estabelecem online com os tutores é que estas sejam boas, esperando que os tutores teçam elogios à minha actuação, sejam rápidos em responder às mensagens e não dêem excessiva preocupação à sua forma em detrimento do conteúdo. Penso que a resposta instantânea e assertiva por parte do tutor acaba por ser importante no mundo virtual de ensino, pois o aluno precisa de receber um feedback constante, caso contrário, o aluno pode ficar insatisfeito com a prática tutorial e isso reflectir-se-á no seu desempenho. Claro que o aluno a que me refiro não pode ser passivo, dependente do modelo presencial, estando sempre à espera que o tutor resolva todos os seus problemas, sem que tentem obter as informações por si mesmos.

Em conclusão, o ensino a distância com uso da tecnologia, aqui em questão, transformou o espaço e lugar do processo de ensino-aprendizagem, diversificou as formas de interacção comunicativa e abriu uma via de novas oportunidades de acesso ao conhecimento, mesmo ao alto nível de formação académica. Embora esta nova forma de relacionamento entre alunos e professores devam muito à tecnologia, esta não é motivo suficiente para garantir a eficiência e a qualidade do ensino.

2009/04/17

Personalidade II - EaD


Fredric Michael Litto, norte-americano, Professor da Universidade de São Paulo desde 1971, especialista na Educação a Distância, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e coordenador científico da Escola do Futuro. [Ver Curriculum Vitae]
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"O mundo mudou, a escola não mudou. A escola tem que mudar", alerta Fredric Michael Litto, professor que há muitos anos vem promovendo cursos de capacitação profissional para professores e educadores, vem recomendando mais autonomia para as escolas e os professores, mais acção dos alunos na aprendizagem, vem fazendo uma apaixonada defesa das novas tecnologias para melhorar a educação, vem criando novos conteúdos para o professores e definindo novas parcerias entre a universidade, a sociedade civil, escolas e diferentes esferas do governo, envolvendo as novas tecnologias. "Isso não significa dispensar o professor", afirma.
Na opinião deste especialista, ao contrário de um transmissor de conhecimentos para o aluno, o professor tem hoje a tarefa de organizar actividades que façam com que os alunos aprendam. "Dentro de uma filosofia construtivista, que faz com que os alunos realizem projectos de biologia, química, história, português, e vão construindo tijolo por tijolo o edifício de seu conhecimento individual", explica.
E o que este Professor pensa do EaD? Distanciando este ensino do E-learning, refere que “o EaD é algo muito maior, um guarda-sol que abriga a todos. O E-learning é apenas um componente disso tudo, mais recente. O EaD no Brasil é bem mais antiga. Ela foi alta na década de 40, com o Instituto Monitor, a Fundação Padre Landell de Moura, a Roquete Pinto, alguns pioneiros que surgiram com a ideia, depois ficou um pouco quieto e cresceu de novo no final dos 60 e nos 70.”
Quando o curso é ministrado online, esclarece, tem de ser feita toda uma adaptação, porque não se trata de comunicação unidireccional, antes pelo contrário, promove-se a interactividade. Neste caso, embora o professor continue a ser importante, este especialista defende que á apenas o arquitecto do curso, aquele que configura o curso, mas, uma vez o curso começado, tudo muda. O “falar” do professor fica em segundo plano. Reside aqui a ideia chave do pensamento de Fredric Litto, para quem a grande aprendizagem ocorre na interactividade, na discussão online entre alunos.
As pesquisas têm mostrado que a aprendizagem dos alunos é muito mais forte e duradoura se os alunos têm muita interactividade entre eles para solucionar problemas, formação de equipas e trabalho em conjunto. A internet permite isso, porque oferece condições de uma aprendizagem muito mais rica, mais eficaz. Por outro lado, há a possibilidade de alcançar um maior número de alunos, incluindo pessoas que têm necessidades especiais: cegos, surdos, indivíduos com mobilidade reduzida ou que têm que ficar em casa cuidando de familiares. Como defende este especialista, graças ao EaD, pode levar-se o conhecimento e a certificação até a casa dessas pessoas. Lembra que o Brasil tem quase 200 milhões de habitantes, 10% são 20 milhões de pessoas que têm essas dificuldades nas suas vidas pessoais e que podem receber formação através das novas tecnologias, ou seja, trata-se do processo de EaD.
Seria bom que os estabelecimentos de ensino acompanhassem tão rápido as mudanças de época como, por exemplo, uma criança contemporânea. Fredric Litto lembra que a criança hoje sabe, quase instantaneamente, usar o controlo remoto, o joystick para jogos e, claro, aventura-se durante horas seguidas ao computador. Está acostumada a um mundo interactivo: se não gosta do canal, muda; a criança vê a escola sob este olhar, ou seja, quando não se interessa pelo que o professor diz, apetece-lhe (mas não pode) fazer ‘clic', mudar de professor. Este novo comportamento deve ser tido em conta no mundo da educação e, segundo este especialista, temos que convencer os poderes políticos a investir em novas tecnologias nas escolas a fim de melhorar a educação. Depois de ser dado este passo, há que incentivar a interactividade, porque é determinante no sucesso da aprendizagem. No Canadá, certas pesquisas mostram que os cursos universitários online, quando bem feitos, promovem uma aprendizagem melhor do que os cursos face-a-face, na sala com o professor.
Segundo o Professor, o ensino a distância não é apenas fazer um curso à distância, é saber como usar recursos na internet para fazer o seu trabalho. O estabelecimento de ensino onde trabalha, a Escola do Futuro, oferece um óptimo recurso online, a toda a hora e sem outros custos, a Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (www.bibvirt.futuro.usp.br) que alberga toda a literatura brasileira, documentos, imagens, sons, fauna e flora. A importância deste recurso gratuito reflecte-se no número diário de utilizadores: 6 mil, sendo a maioria estudantes. Este especialista chama a atenção para o facto de o utilizador dos recursos virtuais desta natureza ter de receber antes a orientação de um professor para que não se disperse. Nesse sentido, Fredric Litto promoveu a criação do site Webquest, tecnologia que orienta o aluno, que apresenta uma pequena estrutura para pesquisas na internet.
De facto, com orientação, o aluno aprende, pensa mais claramente, evitando assim confrontar-se com um excesso de informação. É preciso que o aluno desenvolva a habilidade para a pesquisa pertinente de informação na hora em que precisa. Como diz Fredric Litto, “filtrar informação para saber a diferença entre joio e trigo”.
Em conclusão, os estudos fruto de um trabalho longo e continuado deste especialista, quer no Brasil quer noutros cantos do planeta, a favor do EaD contribuíram muito para a respeitabilidade e a legitimidade no meio científico e académico do tipo de ensino aqui em questão. Não é uma coisa menor, que não mereça interesse científico, antes pelo contrário. A propósito, a instituição que Fredric Litto preside (ABED) enriqueceu o mundo académico com uma revista científica, em que são publicados artigos em português, espanhol e inglês. Uma revista científica eleva o nível do discurso sobre EaD e deixa muito claro que ela é algo nobre dentro da perspectiva académica.

2009/04/16

Personalidade I - EaD


Indico uma das figuras que escolhi:
Michael G. Moore, Professor de Educação na Universidade do Estado da Pensilvânia, EUA, autor de obras sobre educação a distância.
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Através da história do EaD, o conceito de “distância” tem sido alvo de estudo por parte de Michael Moore (Learner Autonomy: the second dimension of independent learning,1972; Toward a theory of independent learning and teaching, 1973; On a Theory of independent study, 1977). Posteriormente, num artigo publicado em D. Keegan (Theoretical Principles of Distance Education, 1993), este Professor lança a Teoria da Distância Transaccional.
São identificadas três formas de interacção:
1. A interacção aluni/conteúdo: processo de interacção intelectual com o conteúdo.
2. A interacção aluno/instrutor: diálogo que existe entre o instrutor e o aluno, em que o instrutor facilita e orienta os alunos na construção do seu conhecimento.
3. A interacção aluno/alunos: diálogo entre aluno e colegas (partilha e aprendizagem construtiva).

Michael Moore utiliza este conceito para representar a dinâmica entre a estrutura dos programas em EaD, o diálogo (professor-tutor-aluno), mass media e a autonomia do aluno no processo de ensino-aprendizagem a distância: “a extensão do diálogo e a flexibilidade da estrutura variam de programa para programa. É essa variação que dá a um programa maior ou menor distância transaccional que um outro [...] Em programas mais distantes, onde menos ou pouco diálogo é possível ou permitido, os materiais didácticos são fortemente estruturados de modo a fornecer toda a orientação [...] Por conseguinte, em programas muito distantes, os alunos precisam de responsabilizar-se em julgar e tomar decisões acerca das estratégias de estudo.” (Theoretical Principles of Distance Education, 1993).
Entende-se assim que quanto maior for a distância transaccional, mais o aluno exercerá essa autonomia. Este especialista estabelece a correlação entre “distância transaccional” de programas em EaD e a autonomia do aluno: quanto mais estruturado menos diálogo ou nenhum diálogo. Trata-se, inicialmente, de uma teoria em que o processo de ensino e aprendizagem está centrado no estudante e a educação é entendida como processo de carácter fundamentalmente individualizado, em que os adultos têm capacidade para decidir sobre sua própria aprendizagem e a maneira de
conduzi-la.
A distância transaccional varia sempre da forma como cada curso está organizado, já que aulas sem discussão serão sempre caracterizadas por uma longa distância transaccional (elevada estrutura, diálogo baixo), enquanto que, quando existem as discussões síncronas há pequena distância transaccional (baixa estrutura, elevado diálogo). Por isso, ensinar e estudar a distância é considerado de antemão como excepcional, não comparável ao estudo face-a-face e, muitas vezes, também como especialmente difícil... Pelo facto de se considerar a distância em relação aos estudantes como um deficit e a proximidade física, pelo contrário, como desejável e necessária, já as primeiras tentativas de estabelecer princípios didácticos específicos para o ensino a distância procuravam encontrar meios e caminhos para superar, reduzir, amenizar ou até mesmo anular a distância física.
Em conclusão, Michael Moore e a sua Teoria da Distância Transaccional demonstram que, em Educação, a distância não tem sentido estritamente físico/geográfico, mas fundamentalmente relacional, afectivo, comunicacional. Esta distância ou proximidade transaccional é que tem importância pedagógica. Ela não depende da proximidade física, antes pelo contrário. A Teoria da Distância Transaccional de Michael Moore ensina-nos que, mais que um obstáculo a ser superado, a distância física deve ser percebida como uma oportunidade a ser positivamente explorada e aproveitada.