2010/06/04

Recensão crítica de vídeos de Michael Wesch

Numa actividade da UC de Educação e Sociedade em Rede do Mestrado em Pedagogia do Elearning da Universidade Aberta, foi solicitado que comentasse alguns vídeos de Michael Wesch (Professor de Antropologia Cultural na Universidade de Kansas, nos EUA - email: mwesch@ksu.edu), disponíveis neste site.

Escrevi o texto que se segue e aguardo as vossas sugestões e comentários:

O trabalho de investigação de Michael Wesch demonstra muito bem como o movimento em rede, proporcionado com o advento da Internet, está a mudar o ensino-aprendizagem dos nossos dias. O próprio Wesch é um agente pioneiro dessa mudança, enquanto educador, ao considerar ser mais importante ajudar os estudantes a colocar questões do que querer continuar o papel convencional do professor: aquele que não põe os estudantes à procura das perguntas...

Quando acontecerá nos estabelecimentos de ensino espalhados por todo o planeta aquilo que se observa na Universidade do Estado de Kansas (vídeo “Students Helping Students”)? O que terá motivado àqueles estudantes para terem vontade em ajudar os colegas? Este comportamento parece ser uma novidade para nós, mas não é tanto assim para os estudantes que frequentam aquela universidade. E o que é novo? Por exemplo, vemos um estudante gritar por ajuda e, rapidamente, aparece uma pequena multidão para ajudar uma condutora a estacionar o seu carro. Tão depressa se formou o grupo, como se desfez depois. E a condutora não mostrou nenhuma surpresa perante este “fenómeno”.

Naquela comunidade, esta atitude parece normal. Mas estes estudantes tê-la-ão apre(e)ndido da parte dos seus professores? Parece que nesta universidade a construção do conhecimento é, fundamentalmente, feita pela comunidade estudantil. A visão dos estudantes afinal está a mudar, questão essa que é tratada noutro vídeo (“A Vision of Students Today”). O que se mantém dos tempos idos nesta universidade são as salas de aula, onde estão dispostas filas de cadeiras viradas para um palco onde se coloca o professor como figura central (e única). Os pensamentos e preocupações dos alunos não são escritos no quadro e sim nas costas das cadeiras e na parede ao fundo da sala. Isso significa que não há diálogo entre os estudantes e o professor?

O que interessa a Wesch são, afinal, essas reflexões dos estudantes: “What are they learning seating here?”. Por isso, temos aqui um pioneiro que promove a mudança de um paradigma educativo. Este educador não pretende ser a autoridade que entra na sala para transmitir informação de qualidade e sim ser aquele que precisa de conhecer as preocupações e pensamentos dos seus alunos para preparar as aulas. Entende assim que a construção dos novos conhecimentos tem de ser feita com os alunos, por mais numerosa que seja a turma.

Este vídeo traz-nos, de forma transparente e pública, o feedback dos alunos. Uma aluna afirma que vai ler 8 livros, 2300 páginas online e 1281 perfis no Facebook este ano - e pensamos que importância terão esses livros e informação na sua aprendizagem universitária. Outra aluna esclarece que completou 49% das leituras definidas para si. Outra aluna ainda confessa que só 26% do que lê e estuda será relevante para a sua vida. Mas muitos outros decidem falar de situações pessoais que acontecem fora da sala de aula. Esperemos que Wesch não tenha grande dificuldade em planificar as aulas para estes estudantes, depois de conhecer estas reacções…

Porém, é isso que acaba por fazer na sua prática lectiva, sendo um educador com preocupações sociais para a educação, como se pode verificar no vídeo “The Machine is (Changing) Us: Youtube and the Plitics of Authenticity”. Uma das ideias que desenvolve relaciona-se com a informação criada em rede ("networked information environment") enquanto modalidade inovadora de construção dos conhecimentos. Na sua opinião, as novas tecnologias e os vários serviços online estão a permitir que as pessoas se juntem para construírem estes saberes de qualidade que podem rivalizar com os conteúdos elaborados pelos especialistas, a quem é reconhecida autoridade científica. O mundo em conjunto discute essa informação, participa em rede. É um bom exemplo para mostrar como a educação precisa de ter uma função social.

Wesch propõe, aliás, que essas novas tecnologias sejam trazidas para a sala de aula. Certamente que não está a falar em partilhar fotos ou enviar mensagens através do Facebook , MySpace ou Twitter. Essa ideia tem de desaparecer da mente dos professores que vêem apenas esses aspectos e não outras funcionalidades educativas das ferramentas e serviços Web2.0. Relembrando a teoria de Postman (“Media ecology”), entenda-se que “media are not just tools”, “media are not just means of communication”, porque “media mediate our conversations” e, por isso, os novos pensamentos mediados pelas novas tecnologias estão na raiz da mudança da nossa cultura. É incontornável a educação relacionar-se com esta cultura.

É importante perceber ainda que, sendo utilizadores das novas tecnologias, os estudantes procuram dar novos significados à informação que encontram e constroem no cibermundo. Portanto, este mundo virtual é também o seu espaço de aprendizagem. Segundo Wesch, os estabelecimentos de ensino têm não só de acolher esses novos significados, como também lhes dar a relevância que só a educação sabe fazer.

Por fim, reconhecer o papel central que os estudantes têm na formação dos novos saberes, enquanto agentes da sociedade em rede, será uma forma de integrar as consequências do impacto da Internet na educação. Só assim se pode recuperar a “antiga dimensão comunitária da aprendizagem”.

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