Fredric Michael Litto, norte-americano, Professor da Universidade de São Paulo desde 1971, especialista na Educação a Distância, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e coordenador científico da Escola do Futuro.
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"O mundo mudou, a escola não mudou. A escola tem que mudar", alerta Fredric Michael Litto, professor que há muitos anos vem promovendo cursos de capacitação profissional para professores e educadores, vem recomendando mais autonomia para as escolas e os professores, mais acção dos alunos na aprendizagem, vem fazendo uma apaixonada defesa das novas tecnologias para melhorar a educação, vem criando novos conteúdos para o professores e definindo novas parcerias entre a universidade, a sociedade civil, escolas e diferentes esferas do governo, envolvendo as novas tecnologias. "Isso não significa dispensar o professor", afirma.
Na opinião deste especialista, ao contrário de um transmissor de conhecimentos para o aluno, o professor tem hoje a tarefa de organizar actividades que façam com que os alunos aprendam. "Dentro de uma filosofia construtivista, que faz com que os alunos realizem projectos de biologia, química, história, português, e vão construindo tijolo por tijolo o edifício de seu conhecimento individual", explica.
E o que este Professor pensa do EaD? Distanciando este ensino do E-learning, refere que “o EaD é algo muito maior, um guarda-sol que abriga a todos. O E-learning é apenas um componente disso tudo, mais recente. O EaD no Brasil é bem mais antiga. Ela foi alta na década de 40, com o Instituto Monitor, a Fundação Padre Landell de Moura, a Roquete Pinto, alguns pioneiros que surgiram com a ideia, depois ficou um pouco quieto e cresceu de novo no final dos 60 e nos 70.”
Quando o curso é ministrado online, esclarece, tem de ser feita toda uma adaptação, porque não se trata de comunicação unidireccional, antes pelo contrário, promove-se a interactividade. Neste caso, embora o professor continue a ser importante, este especialista defende que á apenas o arquitecto do curso, aquele que configura o curso, mas, uma vez o curso começado, tudo muda. O “falar” do professor fica em segundo plano. Reside aqui a ideia chave do pensamento de Fredric Litto, para quem a grande aprendizagem ocorre na interactividade, na discussão online entre alunos.
As pesquisas têm mostrado que a aprendizagem dos alunos é muito mais forte e duradoura se os alunos têm muita interactividade entre eles para solucionar problemas, formação de equipas e trabalho em conjunto. A internet permite isso, porque oferece condições de uma aprendizagem muito mais rica, mais eficaz. Por outro lado, há a possibilidade de alcançar um maior número de alunos, incluindo pessoas que têm necessidades especiais: cegos, surdos, indivíduos com mobilidade reduzida ou que têm que ficar em casa cuidando de familiares. Como defende este especialista, graças ao EaD, pode levar-se o conhecimento e a certificação até a casa dessas pessoas. Lembra que o Brasil tem quase 200 milhões de habitantes, 10% são 20 milhões de pessoas que têm essas dificuldades nas suas vidas pessoais e que podem receber formação através das novas tecnologias, ou seja, trata-se do processo de EaD.
Seria bom que os estabelecimentos de ensino acompanhassem tão rápido as mudanças de época como, por exemplo, uma criança contemporânea. Fredric Litto lembra que a criança hoje sabe, quase instantaneamente, usar o controlo remoto, o joystick para jogos e, claro, aventura-se durante horas seguidas ao computador. Está acostumada a um mundo interactivo: se não gosta do canal, muda; a criança vê a escola sob este olhar, ou seja, quando não se interessa pelo que o professor diz, apetece-lhe (mas não pode) fazer ‘clic', mudar de professor. Este novo comportamento deve ser tido em conta no mundo da educação e, segundo este especialista, temos que convencer os poderes políticos a investir em novas tecnologias nas escolas a fim de melhorar a educação. Depois de ser dado este passo, há que incentivar a interactividade, porque é determinante no sucesso da aprendizagem. No Canadá, certas pesquisas mostram que os cursos universitários online, quando bem feitos, promovem uma aprendizagem melhor do que os cursos face-a-face, na sala com o professor.
Segundo o Professor, o ensino a distância não é apenas fazer um curso à distância, é saber como usar recursos na internet para fazer o seu trabalho. O estabelecimento de ensino onde trabalha, a Escola do Futuro, oferece um óptimo recurso online, a toda a hora e sem outros custos, a Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (www.bibvirt.futuro.usp.br) que alberga toda a literatura brasileira, documentos, imagens, sons, fauna e flora. A importância deste recurso gratuito reflecte-se no número diário de utilizadores: 6 mil, sendo a maioria estudantes. Este especialista chama a atenção para o facto de o utilizador dos recursos virtuais desta natureza ter de receber antes a orientação de um professor para que não se disperse. Nesse sentido, Fredric Litto promoveu a criação do site Webquest, tecnologia que orienta o aluno, que apresenta uma pequena estrutura para pesquisas na internet.
De facto, com orientação, o aluno aprende, pensa mais claramente, evitando assim confrontar-se com um excesso de informação. É preciso que o aluno desenvolva a habilidade para a pesquisa pertinente de informação na hora em que precisa. Como diz Fredric Litto, “filtrar informação para saber a diferença entre joio e trigo”.
Em conclusão, os estudos fruto de um trabalho longo e continuado deste especialista, quer no Brasil quer noutros cantos do planeta, a favor do EaD contribuíram muito para a respeitabilidade e a legitimidade no meio científico e académico do tipo de ensino aqui em questão. Não é uma coisa menor, que não mereça interesse científico, antes pelo contrário. A propósito, a instituição que Fredric Litto preside (ABED) enriqueceu o mundo académico com uma revista científica, em que são publicados artigos em português, espanhol e inglês. Uma revista científica eleva o nível do discurso sobre EaD e deixa muito claro que ela é algo nobre dentro da perspectiva académica.