2010/12/11

Avaliação da qualidade de cursos online: directrizes

A discussão entre os investigadores sobre a a avaliação dos cursos desenvolvidos no contexto online tem promovido a elaboração de modelos orientadores para a caracterização desta problemática e a indentificação dos aspectos mais relevantes que devem constar no percurso desse debate. Temos os seguintes casos:

a) "Considerations for Developing Evaluations of Online Courses", de Achtemeier et al. (2003).

b) "The ideal online course", de A. Carr-Chellman & P. Duchastel (2000).

c) "Quality Guidelines for online Courses:The Development of an Instrument to Audit Online Units", de Herrington et al. (2001).

d) "Defining, Assessing, and promoting E-learning Sucess: An information systems perspective", de C. Holsapple & A. Lee-Post (2006).

e) "E-learning Quality: The Concord Model for Learning from a Distance", de R. Tinker (2001).

Estes artigos sugerem modelos diferentes para abordar a questão da avaliação da qualidade dos cursos online. Mas estarão a apresentar metodologias diferentes para chegar às mesmas conclusões? E quais são essas conclusões?

Na minha opinião, os autores levam-nos a perceber que a discussão da qualidade (e eficiência) dos cursos online deve concentrar-se na sua concepção e disponibilização e, ainda, no modo como o professor e alunos interagem entre si (produção, comunicação e avaliação) e com os materiais/recursos, porque estes factores têm um papel importante em atrair e motivar os alunos para esta modalidade de ensino (e-learning). Se Alison defende que há factores que têm de ser considerados para fazer um curso online, será que contradiz Tinker por este focar a promoção da colaboração dos alunos online? Ou ainda, a lista de verificação baseada em quadros de referência utilizada na avaliação de materiais educativos (Herrington) não pode complementar os princípios fundamentais que Achtemeier pede que sejam respeitados no ensino online eficaz?

Pela leitura dos artigos, verificamos que a concepção de um curso em contexto de e-learning considera o modo como o aluno aprende. Nesse sentido, houve preocupação em definir como pode ser desenvolvida a comunicação entre todos os intervenientes e que instrumentos estão disponíveis para suportar e garantir a eficácia dessa comunicação. Além da comunicação, a reflexão recaiu também na colaboração entre os participantes do curso e qual é a importância em haver regularmente feedback sobre as actividades realizadas.

É sobre a colaboração que faço algumas considerações.

Gostava de concentrar-me, em particular, nos artigos "E-Learning Quality: The Concord Model for Learning from a Distance", de Robert Tinker, e "Quality Guidelines for online Courses: The Development of an Instrument to Audit Online Units", de Anthony Herrington et al., porque abordam bem esse aspecto, entre outros naturalmente.

Quanto ao Modelo Concord, a colaboração entre estudantes deve ser aproveitada para desenvolver discussões online entre eles, enquanto são realizadas as actividades do curso. Estas discussões são assíncronas e espera-se que sejam planeadas cuidadosamente pelo professor, por exemplo, na distribuição e sequencialização das actividades ao longo do tempo e na definição da composição dos grupos de trabalho. Tinker considera que deve haver limites quanto ao número de elementos nas equipas, sendo 20 a 25 o máximo para um grupo participar numa discussão geral, enquanto que 2 ou 3 elementos é o número adequado para equipas pequenas. Nessas discussões, o professor pode intervir para orientar os alunos e esclarecer questões ou dificuldades sentidas pelos alunos, sobretudo relacionadas com as teorias e conceitos, no desenrolar da discussão. Ora, esta interacção poderá alcançar resultados de aprendizagem mais satisfatórios se o ambiente for cativante e as actividades motivadoras e desafiantes, criando-se assim mais oportunidades de colaboração entre os alunos, como referem os autores do outro artigo (Herrington et al.).

Nestes artigos, os autores defendem ainda que uma discussão bem executada promove a confiança entre os alunos e na sua relação com o professor e no aproveitamento do próprio curso. Aliás, a confiança só é possível se o grupo de trabalho funcionar. Para isso ser conseguido, a organização dos horários é um instrumento fundamental no sucesso da colaboração, porque o objectivo do curso online é que todos possam partilhar experiências e produzir conhecimento juntos. Por sua vez, a concepção do curso online tem como função proporcionar e assegurar a flexibilidade de que precisam os alunos para participar nos fóruns de discussão, isto é, prever que as próprias actividades têm tempos específicos e que isso influencia no desenvolvimento das discussões dos alunos.

Certamente que há mais aspectos relacionados com a colaboração que podiam ser trazidos para uma discussão sobre a avaliação de cursos online, mas quis sobretudo sublinhar que foi uma opção acertada dos investigadores evidenciarem que o trabalho colaborativo é uma forma de aferir a qualidade do curso.

Adoptando uma perspectiva geral dos modelos acima referidos, percebo como, na fase da elaboração do curso online, são importantes os factores ligados à tecnologia. Como sabemos, o aspecto que salta mais à vista é que esse curso tem de estar disponível na WWW e que o seu sucesso está directamente relacionado com o aproveitamento que pode ser tirado desse ambiente virtual. É o caso das ferramentas digitais usadas para comunicar e realizar trabalhos colaborativos, são os vários espaços online criados para a disponibilização de conteúdos educativos (Carr-Chellman & Duchastel, 2000). Falar em e-learning é pensar na Internet.

Quando o desenvolvimento do curso integra em si mesmo as potencialidades oferecidas pela Internet, devemos considerar que há agora uma situação nova: os alunos já não estão confinados a um espaço específico nem estão condicionados por horários idênticos. O que faz aumentar muito o número de interessados em frequentar esses cursos, sobretudo numa época em que o acesso à Internet se democratizou. E criar cursos online atraiu, pela mesma razão, a atenção de muitas instituições de ensino e outras entidades que chamaram a si essa função (ex.: formação profissional, formação contínua, etc.) Portanto, a transição do ambiente tradicional para um ambiente virtual (novo, diferente...), exige cuidados e a reflexão de todos.

Segundo Carr-Chellman e Duchastel, as vantagens relacionadas com a criação de cursos online parecem ser muitas, mas temos de ser cautelosos, como correctamente alertam, quando transferimos comportamentos do ensino tradicional para esta modalidade, sob o risco de os cursos se revelarem ineficazes. Assim, é pertinente, cada vez mais, apostar na avaliação dos cursos online e incluir nessa atitude a preocupação sobre o modo como são utilizadas as novas tecnologias de comunicação. Ou seja, o facto de estarem disponíveis online, de os utilizadores estarem familiarizados com a sua funcionalidade e de servirem (também por isso) de suporte na elaboração de um curso online não significa que estão preparadas para serem pedagogicamente eficazes.

Posso concluir que há muitos aspectos que entram em jogo quando as ferramentas Web 2.0 são utilizadas em contexto educativo, tais como, entre muitos outros abordados nos artigos, a comunicação entre os intervenientes no processo de aprendizagem, a interacção dos alunos na realização das actividades, o uso dos recursos disponibilizados numa plataforma digital, etc.

Naturalmente que não podemos definir as garantias para a elaboração dum curso online “ideal”, mas é fundamental que os interessados nesta modalidade de ensino saibam que a qualidade dos cursos passa pela avaliação de muitos dos seus elementos. Os momentos comuns para essa avaliação estão já delineados. Lembro quais são: concepção, disponibilização e resultados. Enfim, é interessante observar como todos se interligam na concepção do curso online.

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