Este vídeo foi preparado pela Northern California Grantmakers
& The William and Flora Hewlett Foundation e mostra muito bem o que são Recursos Educativos Abertos (REA).
2010/04/26
"Open Educational Resources: Unlocking Knowledge to the Global Community"
Sobre a revolução tecnológica e o ensino online
Esta estratégia foi útil e eficaz para a interpretação do pensamento dos referidos autores. Relativamente a Baudrillard, destacaria o conceito de “simulacro”, em que é estabelecido um confronto entre o virtual (mundo artificial criado pelas novas tecnologias da comunicação e os media) e o real. A expansão do virtual acontece em prejuízo do real, que se esvazia. Sabemos que a comunicação foi um elemento decisivo para o desenvolvimento da sociedade moderna (e, claro, da contemporânea), mas é interessante observar que a informação é criadora dessa comunicação, é produtora de sentido.
No entanto, Baudrillard vem dizer que a informação vem dissolver esse sentido, não havendo um aumento de inovação mas sim de entropia social total. O reflexo da sua crítica em relação à era actual (Internet) é perceber que o virtual, devido ao aperfeiçoamento tecnológico, potenciou a natureza artificial, simulacional (parece real mas não é), hiper-real (mais “real” do que o real) do processo comunicacional (“esvaziamento” da interactividade).
Virílio também questiona os fenómenos da realidade quotidiana, como uma transcendência da presença imediata. A percepção do “aqui e agora” alteraram-se e experimenta-se a vida de todos os dias (as relações e comunicação) em graus diferentes de aproximação e distância, espacial (que vai além da significação de território) e temporalmente. Graças às novas tecnologias de comunicação, a experiência da realidade é compartilhada, estamos em relação ao outro da mesma maneira que ele está em relação a nós. Partilhamos, juntos, de uma mesma experiência espaço-temporal, só que a perspectiva tradicional sobre estes conceitos mudou. Como afirma Castells, é “a transformação da nossa cultura material pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação”. (Castells, 1999)
Neste novo paradigma, a informação passa a ser matéria-prima fundamental e as relações deixam de ser territorializadas para serem mais fragmentadas. Historicamente, os nossos comportamentos relacionavam-se com os processos de urbanização da cidade, necessitavam de um lugar fixo e de continuidade para o seu desempenho. Hoje, a informação, sendo uma matéria-prima muito mais flexível e expressando-se nas mais diversas materialidades, necessita muito pouco de um lugar preciso.
Transferindo esta nova prerrogativa para a lógica de redes, podemos identificar uma clara tendência à valorização do espaço das redes em detrimento do espaço territorial característico da sociedade urbanizada (ver o pensamento de Castells desenvolvido em A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura).
Quanto à relação entre o indivíduo e o mundo envolvente (realidade), mediada pelas tecnologias da comunicação (ex.: Internet e email), Virilio apresenta o conceito de "inércia". Já não é importante perceber o que é o "hiper-real" (Baudrillard) e sim identificar os efeitos provocados pela técnica, a maneira como veio dominar o nosso dia-a-dia, os nossos comportamentos e relações nos países em que a comunicação ocorre tecnologicamente (interactividade).
Muitos de nós, interagimos num “cibermundo” (conceito de Virilio) em que o tempo real (o nosso quotidiano) deixou de estar na base da História e a omnipresença da informação (“the information bomb”) tem um ritmo maior (velocidade) proporcionado pelas auto-estradas virtuais (Internet) e pelo desenvolvimento das TIC. E parece que isso nos leva à “inércia”...
Portanto, o espaço das redes permite, com mais velocidade, o desenvolvimento das relações entre as pessoas, tribos e países (que utilizam as novas tecnologias de comunicação). Há uma nova realidade da cultura do digital.
2010/04/23
Recursos Educativos Abertos
A Internet tem proporcionado que, através do movimento Open Educational Resources (OER) ou Recursos Educativos Abertos (REA), sejam disponibilizados recursos em formato digital de interesse pedagógico e de investigação científica.
A estrutura e princípios deste movimento REA fomentam o cada vez mais necessário acesso aos conteúdos abertos que fomentem a auto-aprendizagem e o estudo em ambientes informais.
A UNESCO apresentou a seguinte definição em 2002: “Open educational resources (OER) are learning materials that are freely available for use, remixing and redistribution” e “technology-enabled, open provision of educational resources for consultation, use and adaptation by a community of users for non-commercial purposes”.
O professor do séc. XXI está a enfrentar novos desafios e problemas relacionados com as tecnologias de comunicação, que podem ser resolvidos mais rápido se estiver, por exemplo, inserido num comunidade guiada pelo espírito cooperativo. Talvez seja por isso que centenas de universidades e escolas em todo o mundo tenham adoptado o pensamento deste movimento e começaram a partilhar os seus conteúdos, a contribuir com os seus próprios REA, através da criação de comunidades regidas com esse objectivo comum: disponibilização de recursos e reflexão sobre esta temática.
Os REA incluem todo o tipo de recursos educativos, normalmente em formato digital como por exemplo, objectos de aprendizagem, material de leitura, simulações, experiências, demonstrações, assim como, guias de aprendizagem, estratégias de ensino, etc.
O acesso facilitado aos conteúdos e sobretudo a quem os produz reflecte a mudança do acesso ao conteúdo para o acesso a quem os produz, permitindo deste modo interacções, quase imediatas de feedback, “rating” e validação dos mesmos. Englobam-se nesta caracterização um formato de recursos online como: wikis, blogs, redes sociais, comunidades virtuais, o que facilita a pessoas com os mesmos interesses a partilharem ideias, colaborarem e inovarem na produção de OERs.
Segundo Johnstone (2005), os REA caracterizam-se em três grandes grupos:
a) Recursos de aprendizagem (courseware, módulos de aprendizagem, objectos de aprendizagem, ferramentas de avaliação, comunidades de aprendizagem online);
b) Recursos de suporte à aprendizagem (ferramentas e materiais de suporte que permitam aos professores criar, adaptar e usar os REA); e
c) Recursos que promovem a qualidade do ensino e das práticas educacionais.
Como a utilização dos recursos disponibilizados na Internet está a generalizar-se e está a aumentar a produção de recursos educativos, é necessário também conhecer as regras de utilização e os direitos de publicação dos recursos produzidos. Estes materiais de aprendizagem, para serem livres e abertos, têm de ser distribuídos mediante a licença Creative Commons.
Sugiro que visitem este website que acompanha esta temática: Associação Ensino Livre.
REFERÊNCIAS
“BCcampus OER site – Free Learning”. Disponível em http://www.edtechpost.ca/wordpress/2008/10/27/bccampus-free-learning/ , consultado em Abril de 2010.
Downes, S. (2002). Design and reusability of learning objects in an academic context: A new economy of education? USDL Journal, 17(1). Disponível em
http://www.usdla.org/html/journal/JAN03_Issue/article01.html, acedido em Abril de 2010.
Downes, S. (2007). Models for sustainable open educational resources. Interdisciplinary Journal of Knowledge & Learning Object, 3, 29-44. Dsiponível em http://ijklo.org/Volume3/IJKLOv3p029-044Downes.pdf, acedido em Abril de 2010.
“E Viva Madrid, E Viva Espanha”. Disponível em http://cibertecario02.blogspot.com/2008/06/e-viva-madrid-e-viva-espanha.html , consultado em Abril de 2010.
Johnstone, S. M. (2005). Open educational resources serve the world. Educause Review. Disponível em http://www.educause.edu/apps/eq/eqm05/eqm0533.asp, consultado em Abril de 2010.
“Scratch.mit.edu now at 400,000+ projects”. Disponível em http://creativecommons.org/weblog/entry/14416 , consultado em Abril de 2010.
Tuomi, Ilkka (2006). Open Educational Resources: What they are and why do they matter. (Report prepared for the OECD). Disponível em: http://www.meaningprocessing.com/personalPages/tuomi/articles/OpenEducationalResources_OECDreport.pdf
Wiley, David ed. (2008). OER Handbook for Educators 1.0. Disponível em: http://www.wikieducator.org/OER_Handbook/educator_version_one
2010/04/18
Baudrillard - The Murder of the Real
Estudou alemão na Sorbonne, tendo traduzido para o Francês obras de Karl Marx e Bertolt Brecht. Leccionou sociologia na Universidade de Nanterre e a sua tese "O sistema dos Objetos", foi publicada em 1968.
A obra era voltada para um estudo semiológico do consumo, assim como os seus dois livros seguintes, "A Sociedade de Consumo" (1970) e "Por uma Crítica da Política Económica do Signo" (1972). Outras obras que merecem destaque são: "À Sombra das Maiorias Silenciosas" (1978), "Simulacros e Simulações" (1981), "América" (1986), "A Troca Impossível" (1999) e "O Lúdico e o Policial" (2000).
Pensador polémico, Baudrillard desenvolveu uma série de teorias sobre os impactos da comunicação e dos media na sociedade e na cultura contemporâneas. A sua filosofia baseia-se no conceito de virtualidade do mundo aparente, refutando o pensamento científico tradicional. Criticava a sociedade de consumo e os meios de comunicação e considerava as massas como cúmplices dessa situação.
Estão disponíveis no Youtube excertos da entrevista sobre "The Murder of the Real", cuja primeira parte coloco já neste blogue.
Cybermonde, la politique du pire - Paul Virilio
O seu livro "Cybermonde" é organizado em quatro partes principais. A primeira, intitulada “Da revolução dos transportes a revolução das transmissões”, Virilio analisa o curto período que vai da revolução industrial no século XIX à era da informática. Para ele, a questão fundamental é da relação entre velocidade e poder político, em que contesta a ideia de que as tecnologias do tempo real podem contribuir para o aperfeiçoamento da democracia.
Na segunda parte, “ A parte do mundo ou como recuperar o próprio corpo”, Virilio interroga-se sobre a cidade, os dispositivos que recriam o nosso mundo habitado e o nosso próprio corpo, exactamente no limite entre o espaço público e o privado.
A terceira parte, intitulada “Quaisquer boas razões para entrar na resistência”, Virilio debruça-se sobre o que chama de acidente geral, o milagre da inversão e a reversibilidade dos objectos.
A última parte, intitulada “Da guerra provável a paisagem reconquistada”, Virilio explora o campo da guerra em tempo real no espaço dos satélites. Através da pergunta, “o que houve com a guerra?”, coloca-nos a questão de que se o desastre real não está diante de nós, é tempo de reconquistar o planeta e de inventar uma nova paisagem.
A obra referida pode ser acedida através deste link. Boa leitura!
2010/04/12
Noção de cibercultura de Pierre Lévy
As perguntas colocadas pelo Prof. António Teixeira, docente da u.c. acima referida (vide página principal do curso na Moodle), focam os pontos de tensão existentes entre o contexto contemporâneo – “mutação contemporânea da relação com o saber” (Lévy, pág. 157) – e a nossa liberdade enquanto cidadãos. Que responsabilidade ainda temos hoje na construção do património cultural dos cinco continentes? Qual é o conhecimento emergente e a nova vivência humana na era da imersão interactiva?
Uma das preocupações do filósofo francês Pierre Lévy, revelada na sua obra Cibercultura, é o “dilúvio informativo” que move a cultura de massa, actualmente utilizadora frequente da Internet. A partir de agora, cada indivíduo ocupa uma posição singular e evolutiva numa sociedade cujos conhecimentos emergentes são abertos, contínuos e não lineares e a cibercultura, enquanto universal sem totalidade – “A cada minuto que passa, novas pessoas acedem à Internet, novos computadores são interconectados, novas informações são introduzidas na rede. Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais este se torna “universal”, e menos o mundo informacional se torna totalizável”. (Lévy, pág. 111.) –, transforma as condições de vida em sociedade. Mas será que os indivíduos podem controlar ou seleccionar as informações recebidas, terão alguma acção sobre a emissão dessa informação?
Nesta obra, Lévy esclarece, desde logo, os termos "ciberespaço" e "cibercultura". "O ciberespaço (que também chamo de rede) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço." (pág. 17).
É curioso verificar que o antigo “receptor” passa a produzir e a emitir a sua própria informação, de forma livre e planetária. As práticas comunicacionais da Internet mostram que as pessoas estão a produzir vídeos, fotos, música, escrevem em blogs, criam fóruns e comunidades, desenvolvem softwares e ferramentas da Web 2.0, trocam música, etc. Aliás, um dos fenómenos verificados e estudados por Castells (2007), quanto ao carácter da sociedade contemporânea, é a importância crescente que esta dá à informação e ao conhecimento (a sociedade do conhecimento enquanto novo paradigma tecnológico). Passámos da era industrial para a era informacional e esta mudança histórica deveu-se ao advento das novas tecnologias de comunicação e informação. Embora afirme que as redes não são uma nova forma de organização social, estas tornaram-se uma característica chave na morfologia digital, porque “são estruturas abertas, capazes de se expandir de forma ilimitada, integrando novos nós(*) desde que consigam comunicar dentro da rede, nomeadamente, desde que partilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objectivos de desempenho).” (Castells, pág. 607). Porém, dever-se-á confundir este fenómeno social com excesso de informação?
Na cultura pós-massiva estão a ser construídos novos modelos de conhecimento e, no âmbito da cibercultura, é possível identificar novos actos quotidianos: produzir, colocar em circulação e disponibilizar livremente cada vez mais informação. Para dar exemplos concretos, podemos dizer que blogs e podcasts tornaram-se novas formas de emissão textual, imagética e sonora pelas quais cada utilizador faz o seu próprio veículo. Os blogs são hoje um fenómeno mundial de emissão livre de informação sobre diversos formatos (pessoais, jornalísticos, empresariais, académicos, comunitários...). Os podcasts, por sua vez, são formas livres de emissão sonora pelas quais cada utilizador pode criar o seu próprio programa e disseminá-lo pela rede.
A verdade é que a revolução da cibercultura implica novos sentidos da tecnologia – que ideias novas resultam deste objecto inventado para ser utilizado, também, como meio de comunicação? –, uma vez que esta se tornou no novo ambiente material para o Homem, tendo um impacto considerável na sua vida, com signos e imagens por meio dos quais ele atribui sentido ao mundo. Não podemos deixar de pensar que esta tecnologia é produto social e cultural e com a revolução da informática, voltamos ao velho sonho de um mundo da comunicação livre, sem entraves, democrático, global, porque, como afirma Lemos (2008), “no fim do século XX, com o surgimento dos media “pós-massivos” (eletrónico-digitais), a relação com o espaço passou por transformações a partir da liberação da emissão e da conexão generalizada por redes online”. O novo paradigma traduz o mundo em dados binários, para posterior processamento em máquinas informacionais, os computadores. A dominação agora é digital e, como afirma Lévy, “o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória (bancos de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos(, imaginação (simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenómenos complexos.” (pág. 157).
Mas resta perguntar para onde essa revolução nos levará. Não basta emitir sem se conectar, compartilhar, por exemplo, através da Internet. A internet traz-nos a possibilidade de actuarmos em rede, onde cada um de nós é um “nó”. Não há centro, a acção de cada nó é como um microcosmos dentro do cosmos, que pode influenciar e reconfigurar toda a rede. É preciso emitir em rede, entrar em conexão com outros, produzir sinergias, trocar informação, fazê-la circular, distribuí-la. “A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura e uma sociedade encontra-se condicionada [e não determinada] por suas técnicas." (Lévy, pág.25). São estas técnicas que abrem algumas possibilidades, algumas opções culturais e sociais (a técnica condiciona), sem as quais o pensamento contemporâneo seria diferente. Esse segundo princípio, a conexão em rede online, parece ser mesmo uma característica fundamental da cibercultura, enquanto forma de transmissão. Como diz Lévy, “a sua principal operação é a de conectar no espaço, de construir e de estender os rizomas do sentido”. (pág. 249). Desde o início, a Internet caracteriza-se como lugar de conexão e partilha. Foi assim que surgiram as primeiras listas de discussão, as trocas de email, os chats...
Gostava ainda de destacar três exemplos referidos no capítulo dedicado ao movimento social da cibercultura (p.123-132), em que Pierre Lévy recorda que a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social da juventude. São desenvolvidos três princípios que sustentam este movimento social da cibercultura: a interconexão (p. 127), as comunidades virtuais (p. 127-130) e a inteligência colectiva (p. 130-132).
A interconexão transfere para uma existência diferente o próprio ciberespaço: “Os veículos de informação não estariam mais no espaço mas (…) todo o espaço se tornaria um canal interactivo.” (pág. 127). Constitui-se, assim, um mundo físico para suportar a comunicação universal que rejeita o isolamento. Aquilo que possamos imaginar como máquinas de comunicação passarão, em breve, a estar interligadas na Internet e este novo ambiente – o ciberespaço obedece ao “imperativo categórigo da cibercultura” (pág. 127) – proporcionará um segundo tipo de conexão, neste caso, das ideias que podem, por sua vez, ser agrupadas em tribos ou em comunidades virtuais. “A interconexão constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras”, afirma Lévy, porque a “cibercultura aponta para uma civilização da telepresença generalizada.” (pág. 127).
Como as comunidades virtuais processam a cooperação (afinidade de interesses e conhecimentos) através da troca de informações que a consolidam enquanto grupo, independente de proximidades geográficas, elas apoiam-se partindo da interconexão.
As relações sociais que acontecem nessas comunidades não impedem que se criem emoções entre os participantes do ciberespaço, embora “a comunicação por meio de redes de computadores [não] substitua (…) os encontros físicos.” (pág. 128). Aliás, “afinidades, alianças intelectuais e até mesmo amizades podem desenvolver-se nos grupos de discussão [online].” (pág. 128).
Informação e sentimento estão presentes numa comunidade virtual em que as tomadas de posição permitem, por exemplo, as personalidades dos intervenientes. Este é um bom argumento para concluir que esta comunidade é bem real, sendo um colectivo que troca informações e constrói uma opinião pública, gerando um movimento de ideias e, portanto, de intervenção social – não há espaço para uma irresponsabilidade anónima, todos estão atentos ao que é transmitido pelo outro que está do lado de lá do ecrã e noutro ponto do planeta -, dentro mesmo do ciberespaço e na cibercultura. E este fenómeno de comunicação colectiva (processos abertos de cooperação, aprendizagem cooperativa) “é a expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais e de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns.” (pág. 130).
O terceiro princípio da cibercultura, base também do movimento social acima referido, é a inteligência colectiva. Pierre Lévy acredita que as redes de comunicação e as memórias digitais irão em breve suportar as representações e mensagens que circulam pelo planeta e defende a hipótese de que é possível, e até desejável, produzir dispositivos que encarnem ou materializem efectivamente a inteligência colectiva.
Este filósofo apresenta a inteligência colectiva como um novo tipo de pensamento sustentado por conexões sociais que são viáveis através da utilização das redes abertas da Internet. Aceita o pressuposto que “o melhor uso que podemos fazer do ciberespaço é colocar em sinergia os saberes, as imaginações, as energias espirituais daqueles que estão conectados a ele.” (pág. 131) Acredita que as sociedades tendem a organizar-se cada vez menos em padrões formais e a valorizarem cada vez mais a aprendizagem cooperativa e colectiva como nova forma de organização.
Trocar informações mais verticalizadas dentro de centros de interesse significa criar uma rede especializada, onde a circulação da informação (através da interconexão) acontece de forma mais rápida e centrada (por meio das comunidades virtuais), um colectivo inteligente que se apropia, mais facilmente, das alterações técnicas que reduzem “os efeitos de exclusão ou de destruição humana resultantes da aceleração do movimento técnico-social.” (pág. 29)
Fora da interconexão e de uma comunidade virtual, somos, cada um de nós, um elemento contribuinte do inconsciente colectivo – um movimento etéreo, invisível, intuitivo e não cerebral. No ciberespaço, o nosso colectivo é (mais) consciente, inteligente e mais visível e, enquanto suporte da inteligência colectiva, o ciberespaço é uma das condições principais do seu próprio desenvolvimento. Porém, este não é determinado automaticamente, trata-se apenas de um ambiente propício à criação dessa inteligência.
Pierre Lévy conclui que a emergência do ciberespaço, da cibercultura é despoletada pela abertura para a alteridade que movimenta as comunidades virtuais, a inteligência colectiva e a interconexão. Estes princípios, no global, são a essência e condição da cibercultura.
(*) “A rede é um conjunto de nós interligados. Um nó é o ponto no qual uma curva se intercepta. O nó a que nos referimos depende do tipo de redes em causa”. (Castells, pág. 606).
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REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel (2007). "A sociedade em rede: A era da informação: Economia, sociedade e cultura" (3ª ed., Vol. 1). (A. Lemos, C. Lorga, & T. Soares, Trads.) Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
LEMOS, André (2007). "Ciberespaço e tecnologias móveis: processos de territorialização e desterritorialização na cibercultura". In: MÉDOLA, Ana Silvia; ARAÚJO, Denise; BRUNO, Fernanda (Org.). “Imagem, visibilidade e cultura midiática”. Porto Alegre: Sulina, p. 277-293. Disponível em www.andrelemos.info/artigos/territorio.pdf , acedido em Abril de 2010.
LEMOS, André (2008). "Mídia locativa e território informacional". SANTAELLA, Lucia;
ARANTES, Priscila (Org.). Estéticas tecnológicas: novos modos de sentir. São Paulo: EDUC. Disponível em www.andrelemos.info/artigos/midia_locativa.pdf, acedido em Abril de 2010.
LÉVY, Pierre (1994). "Inteligencia colectiva: por una antropologia del ciberespacio". Disponível em http://www.4shared.com/document/RqH5viQd/Levyinteligencia_colectiva.html?err=no-sess, acedido em Abril de 2010.
LÉVY, Pierre (1999). "Cibercultura", Editora 34, S. Paulo.
TRIVINHO, Eugênio (2003). "Cibercultura, sociossemiose e morte. Sobrevivência em tempos de terror dromocrático", GT Sociedade Tecnológica, COMPÓS. Disponível em http://www.comunica.unisinos.br/tics/textos/2003/GT12TB2.PDF, acedido em Abril de 2010.
2010/04/08
Provedora do Estudante da Univ. Aberta
Aproveito para transcrever o seu comunicado:
"Apresento-me na qualidade de Provedora do Estudante da Universidade Aberta. É com muita honra que me proponho desempenhar este cargo e que saúdo todos aqueles que fazem parte da Comunidade Educativa da Universidade Aberta.
Dirijo-me primeiramente aos Estudantes, para lhes assegurar que me irei interessar por cada um dos casos que me forem apresentados e dar o devido seguimento que estes merecerem, no sentido de obviar, no mais curto espaço de tempo possível, às angústias e anseios expressos nas reclamações ou sugestões que forem dirigidas à Provedoria.
Estou certa de que a Provedoria poderá contar com a pronta colaboração dos responsáveis pelos Órgãos e Serviços da Universidade, na resolução concertada de eventuais obstruções ou impedimentos que se coloquem no caminho das aprendizagens inovadoras, na sua maioria baseadas no ensino a distância online, que se apresentam aos nossos estudantes, a quem se exige uma particular responsabilização pelo seu percurso educativo e aprendizagem ao longo da vida.
A implementação do novo modelo pedagógico baseado no e-learning exigiu, num curto espaço de tempo, uma rápida adaptação e formação, não só por parte dos estudantes, mas também por parte dos docentes e dos serviços inerentes. É importante um respeito recíproco pelo esforço empenhado de cada um, para levar a cabo a missão da Universidade.
Será esta a minha prioridade, ouvir os estudantes e assegurar os seus direitos, liberdades e garantias, através de reflexões e propostas de soluções que os estudantes poderão acompanhar no Espaço Provedor do Estudante da Universidade Aberta, logo que este esteja disponível."
(Link para o comunicado: http://www.univ-ab.pt/uabNewsletter/dd_detail.php?id=33&idArtigo=232)
2010/04/05
Cibercultura - Pierre Lévy
Cibercultura surgiu da relação entre a tecnologia e a modernidade com o propósito de a Humanidade conhecer o mundo numa nova perspectiva e transformá-lo. As práticas, atitudes, modos de pensamento e valores estão, cada vez mais, condicionados pelo novo espaço de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores: o ciberespaço. "A cibercultura é um termo utilizado na definição dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual. Estas comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da Internet e outras tecnologias de comunicação, possibilitando assim maior aproximação entre as pessoas de todo o mundo." (In Wikipedia, acedido em 2010-03-05)
No seu livro, este filósofo esclarece os termos "ciberespaço" e "cibercultura".
"O ciberespaço (que também chamo de rede) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo cibercultura, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço."
Aqui está a obra de Pierre Lévy, disponível em Google Books:
2010/04/02
I Encontro UED sobre E-Learning
Infelizmente, não foi possível estar presente neste encontro. Mas havia razões fortes para isso, sobretudo as apresentações de dois professores que me têm ensinado muito sobre as boas práticas a ter nos cursos de ensino a distância: o Prof. António Quintas Mendes e a Prof. Lina Morgado.
Algumas das temáticas principais abordadas pelos dois professores fizeram parte do programa das disciplinas que ministram no Mestrado de Pedagogia em E-Learning, na http://www.univ-ab.pt/. Por isso, foi muito útil para mim ver este "balanço". Nesta altura, reconheço com maior facilidade as ideias desenvolvidas sobre o EaD.
Podem ver esta apresentação: