2010/04/26

Sobre a revolução tecnológica e o ensino online

Numa actividade de grupo realizada no âmbito da u.c. Educação e Sociedade em Rede do mestrado em Pedagogia do E-Learning da www.univ-ab.pt, foi desenvolvido um debate que serviu de palco para a análise e o estudo das obras de Paul Virilio (A Inércia Polar) e J. Baudrillard (Simulacros e Simulação).

Esta estratégia foi útil e eficaz para a interpretação do pensamento dos referidos autores. Relativamente a Baudrillard, destacaria o conceito de “simulacro”, em que é estabelecido um confronto entre o virtual (mundo artificial criado pelas novas tecnologias da comunicação e os media) e o real. A expansão do virtual acontece em prejuízo do real, que se esvazia. Sabemos que a comunicação foi um elemento decisivo para o desenvolvimento da sociedade moderna (e, claro, da contemporânea), mas é interessante observar que a informação é criadora dessa comunicação, é produtora de sentido.

No entanto, Baudrillard vem dizer que a informação vem dissolver esse sentido, não havendo um aumento de inovação mas sim de entropia social total. O reflexo da sua crítica em relação à era actual (Internet) é perceber que o virtual, devido ao aperfeiçoamento tecnológico, potenciou a natureza artificial, simulacional (parece real mas não é), hiper-real (mais “real” do que o real) do processo comunicacional (“esvaziamento” da interactividade).

Virílio também questiona os fenómenos da realidade quotidiana, como uma transcendência da presença imediata. A percepção do “aqui e agora” alteraram-se e experimenta-se a vida de todos os dias (as relações e comunicação) em graus diferentes de aproximação e distância, espacial (que vai além da significação de território) e temporalmente. Graças às novas tecnologias de comunicação, a experiência da realidade é compartilhada, estamos em relação ao outro da mesma maneira que ele está em relação a nós. Partilhamos, juntos, de uma mesma experiência espaço-temporal, só que a perspectiva tradicional sobre estes conceitos mudou. Como afirma Castells, é “a transformação da nossa cultura material pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação”. (Castells, 1999)

Neste novo paradigma, a informação passa a ser matéria-prima fundamental e as relações deixam de ser territorializadas para serem mais fragmentadas. Historicamente, os nossos comportamentos relacionavam-se com os processos de urbanização da cidade, necessitavam de um lugar fixo e de continuidade para o seu desempenho. Hoje, a informação, sendo uma matéria-prima muito mais flexível e expressando-se nas mais diversas materialidades, necessita muito pouco de um lugar preciso.

Transferindo esta nova prerrogativa para a lógica de redes, podemos identificar uma clara tendência à valorização do espaço das redes em detrimento do espaço territorial característico da sociedade urbanizada (ver o pensamento de Castells desenvolvido em A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura).

Quanto à relação entre o indivíduo e o mundo envolvente (realidade), mediada pelas tecnologias da comunicação (ex.: Internet e email), Virilio apresenta o conceito de "inércia". Já não é importante perceber o que é o "hiper-real" (Baudrillard) e sim identificar os efeitos provocados pela técnica, a maneira como veio dominar o nosso dia-a-dia, os nossos comportamentos e relações nos países em que a comunicação ocorre tecnologicamente (interactividade).

Muitos de nós, interagimos num “cibermundo” (conceito de Virilio) em que o tempo real (o nosso quotidiano) deixou de estar na base da História e a omnipresença da informação (“the information bomb”) tem um ritmo maior (velocidade) proporcionado pelas auto-estradas virtuais (Internet) e pelo desenvolvimento das TIC. E parece que isso nos leva à “inércia”...

Portanto, o espaço das redes permite, com mais velocidade, o desenvolvimento das relações entre as pessoas, tribos e países (que utilizam as novas tecnologias de comunicação). Há uma nova realidade da cultura do digital.

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