2010/11/14

Factores de qualidade de cursos online

Esta reflexão foi desenvolvida no âmbito de uma actividade da unidade curricular Concepção e Avaliação em Elearning, do Mestrado em Pedagogia do Elearning, na Universidade Aberta, e tem em conta, sobretudo, a análise de dois artigos científicos: "Approaches to E-learning quality Assessment" (Penna & Stara) e "Reflections on Teaching and Learning Online: Quality program design, delivery and support issues from a cross-global perspective" (Wisenberg & Stacey).

Ao identificar os factores principais que os autores relacionam com a qualidade dos cursos desenvolvidos em contexto de ensino online, percebo que a utilização do tempo - um dos vários aspectos existentes no complexo ambiente de aprendizagem - pelo professor e alunos condiciona o ensino-aprendizagem dos conteúdos do curso, motiva a formação de novas competências de aprendizagem e determina a selecção de estratégias de comunicação eficazes que respeitem os ritmos, interesses e características pessoais e culturais dos alunos.

Assim, passo a referir a minha interpretação sintética desses factores, começando pelo texto "Approaches to E-learning quality Assessment", de Penna & Stara:

Síntese: Dificuldade na avaliação da qualidade do E-learning

Motivo 1: Quadro de Referência para a Descrição de Abordagens de Qualidade (QRDAQ)

Este documento sugere um enquadramento de referência como um padrão de qualidade Europeu e disponibiliza um repositório baseado na Internet para a gestão da qualidade, garantia de qualidade e abordagens da avaliação da qualidade no campo do e-learning.

Mas, segundo os autores, trata-se de uma lista de sugestões e prescrições sem indicações para uma implementação em termos práticos. As abordagens soam como listas de recomendações genéricas, cuja aplicação concreta é deixada apenas à fantasia (e não à ciência) de alguns.

Motivo 2: Modelos diferentes uns dos outros no que diz respeito às hipóteses de base e aos contextos de aplicação.

O Modelo de Sucesso do E-learning (Holsapple e Lee-Post, 2006)

Etapa 1 - o objectivo é alcançar o sucesso da concepção do sistema: qualidade do sistema, qualidade da informação e qualidade de serviço.

Etapa 2 - sucesso do sistema de entrega, maximizando a utilização e as dimensões de satisfação do utilizador.

Etapa 3 - sistema com sucesso através da maximização da dimensão dos benefícios líquidos.

Factor fundamental de sucesso no e-learning é a disponibilidade online dos alunos. A selecção de alunos para cursos online é baseada na avaliação das respostas com referência a quatro medidas de preparação: preparação académica, competência técnica, estilo de vida adequado e com preferência para uma aprendizagem para o e-learning.

O modelo conceitual (Klein et al., 2006)

“Os resultados do curso são um resultado directo da motivação para aprender.”

A motivação é influenciada por características do aluno, características de instrução e barreiras que impedem ou possibilitam o seu progresso.

Conhecer o perfil dos alunos é a melhor maneira de criar projectos úteis, estilos e tons, mas, quando se ensina online, existem algumas preocupações de design, que representam outros potenciais benefícios da planificação.

Cinco dimensões que afectam a eficácia da formação online (Lim et al., 2007):

- a motivação e a auto-eficácia do formando
- o conteúdo do ensino
- o nível de comunicação entre formador e formando
- o ambiente organizacional
- a facilidade de uso dos recursos on-line do website.

Relativamente ao texto "Reflections on teaching and Learning Online: Quality program design, delivery and support issues from a cross-global perspective", de Wisenberg & Stacey (2005), este artigo aborda a qualidade da concepção dos programas, a sua implementação e o apoio ao ensino e à aprendizagem em diferentes contextos culturais.

Neste momento, gostava de sintetizar os dois primeiros tópicos.

A - Concepção de programas

1. A fase de pré-disponibilização do curso.

- necessidade de formular uma comunicação à prova de falhas e estratégias de resolução de problemas antes do começo do curso
- fase de planeamento de pré-disponibilização extensa é essencial para maximizar o sucesso de qualquer programa à distância
- equipa central de abordagem à elaboração do programa de distância, que preferencialmente inclua diferentes profissionais.

2. Natureza complexa de ensinar em contexto de ensino online e os papéis do professor.

- aprendizagem centralizada no aprendente
- um conhecimento centralizado
- uma avaliação centralizada
- centralização na comunidade
- desenvolvimento de competências técnicas
- progressão de tarefas medida ao longo das cinco fases progressivas (Salmon)

3. O efeito de diferentes meios de comunicação sobre a dinâmica da comunicação.

- modelo misto de ensino online / abordagem "mista" à disponibilização do programa: cursos presenciais (encontros face-a-face para facilitar o processo de construção de comunidade) e cursos online
- papel activo do professor na interacção com os alunos (na ausência de aulas presenciais): organizar tópicos de discussão facilmente acessíveis e sugerir a utilização de vários meios de comunicação
- desenvolvimento de discurso interactivo como incentivo para discussão de conteúdos (o discurso deve evoluir de forma produtiva e responsável)
- modelo de "comunidade de investigação" como incentivo à aprendizagem activa
- a criação de um ambiente de confiança e de apoio aos alunos depende da interacção social e do sentido de comunidade online.

4. O valor de uma comunicação assíncrona para reflexões e análises críticas aprofundadas.

- Gestão do tempo para fomentar participações reflexivas dos alunos
- O desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos depende das suas intervenções online
- O meio assíncrono permite aos alunos desenvolver as respostas (escritas) de uma forma mais cuidada, formal e reflexiva.

5. A importância de capacitar os estudantes para assumirem a responsabilidade pela sua aprendizagem.

- as tecnologias de comunicação avançadas têm aumentando as oportunidades de interação (aprendizagem colaborativa) entre estudantes e corpo docente
- papel activo do aluno na construção do ambiente de aprendizagem online (primeiro passo da sua responsabilização)
- técnicas instrucionais experimentais para envolver os alunos no processo de aprendizagem através da ligação dos conceitos teóricos com a própria vida dos alunos
- grupos pequenos permitem que os alunos se envolva de forma mais eficaz no processo de aprendizagem.

B- Implementação do programa de cursos

1. Abordagem dirigida para o desenvolvimento/aprendizagem e experiencial para disponibilização do curso funciona melhor num contexto de ensino online.

- abordagem experiencial (Kolb, 1984) situada dentro de uma abordagem de ensino-aprendizagem (Pratt, 1998)
- o “papel de aprendizes” dos alunos é um apoio na interacção de todos na comunidade de aprendizagem online: interdependência e alunos reflexivos (Brookfield, 2006)

2. Criar deliberadamente uma "comunidade de aprendizagem" segura, assim como construir competências de comunicação online dos alunos.

- criar um ambiente online que fomente o diálogo interactivo através das tecnologias (CMC)
- apoio do professor para resolver dificuldades técnicas e ajudar a combater o isolamento social (novas competências interpessoais)

3. Organização dos alunos no ambiente online.

- reservar tempo para desenvolver capacidades de gestão do tempo e a sua flexibilidade na realização das actividades
- aprender a organizar-se no ambiente online e adaptar-se aos novos comportamentos (comunicação, interacção, produção, etc.)
- adequar a utilização do tempo na definição de estratégias de comunicação

4. Diversidade de alunos multiculturais.

- selecção cuidada das intervenções de ensino
- abordagem de ensino mais cuidadosa e mista, combinando métodos didácticos mais tradicionais com estratégias colaborativistas.

Deixo-vos este contributo e convido-vos a apresentarem comentários e sugestões que possam melhor esta reflexão.

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